3.1. Reino
Animalia: os metazoários
Os metazoários (do
grego «meta», que significa «depois», no espaço e no tempo, e «ta zoa»,
animais pluricelulares) são animais mais evoluídos com células organizadas em,
pelo menos, duas camadas celulares ou tecidos. Tais tecidos não são idênticos
entre si, nem na estrutura, nem na função. Nos casos de organização mais
simples, as camadas celulares representam as camadas somática e reprodutiva.
A primeira relaciona-se com o corpo e a segunda com a reprodução.
Os Cientistas são
unânimes em afirmar que os metazoários têm a sua origem nos protozoários. No
entanto, apresentam hipóteses diferentes quanto aos organismos unicelulares que
terão dado origem aos metazoários. A falta de unanimidade deve-se à falta de
provas fósseis. Assim, a reconstrução dessa transição só pode ser feita com
base na análise dos organismos recentes.
As teorias mais
recentes e aceites por vários cientistas são três.
·
A Teoria Sincicial, de Hadzi (1953), defende que os
metazoários surgiram a partir de organismos ciliados multinucleados que
sofreram o processo de celularização.
·
A Teoria Blastea propõe que uma colónia
de flageladas poderá ter originado os metazoários. As colónias podem ter
sofrido um processo pelo qual se tornaram esferas ocas semelhantes a uma
blástula. Esta teoria foi proposta pelo naturalista alemão Ernst Haeckel, em
1834, tendo sido sustentada por Metschnikoff, em 1887.
·
A Teoria Polifilética sustenta uma origem a partir de
vários grupos de organismos unicelulares, em que cada grupo deu origem a
determinado(s) metazoário(s).
Hoje acredita-se que
existam cerca de 30 filos de metazoários, contendo no total perto de 1 049 000
espécies diferentes. Todos os dias os cientistas vão descobrindo novas espécies
e taxa, o que torna estes números imprecisos.
Características principais e sistemática dos metazoários
Os metazoários
são heterotróficos por excelência. Geralmente, possuem uma
locomoção activa, salvo formas ou estágios sésseis de determinados animais
(poríferos e pólipos, por exemplo).
Todos são pluricelulares,
mesmo que isso não signifique formação de tecidos verdadeiros (é o caso das esponjas).
Verifica-se ainda
diploidia dos indivíduos durante toda a vida: as células do individuo são
diploides. Haploides são apenas os gâmetas. As gametas são produzidas dentro de
gónadas.
Os metazoários
desenvolvem-se a partir de embriões, num processo chamado embriogénese.
Durante a
embriogénese, ocorrem várias divisões mitóticas do zigoto. As células dai
resultantes chamam-se blastómeros.
Os metazoários, de uma
forma geral, têm o corpo simétrico. Os casos não simétricos encontram-se
nos Placozoa. Geralmente, os metazoários exibem uma simetria
radial (são os radiossimétricos) ou bilateral (são os
bilaterossimétricos). A simetria radial encontra-se nos cnidários (medusa e
pólipo) e nos ctenóforos. Animais bilaterossimétricos são praticamente todos os
que se situam acima dos cnidários e ctenóforos, com a excepção dos equinodermes
adultos.
Fig. 2: Planos de simetria radial e
bilateral nos animais. |
Internamente, os
metazoários podem ou não exibir uma cavidade situada entre a parede do corpo e
os órgãos internos, chamada celoma. Em linguagem científica, diz-se
que é uma cavidade secundária geral. Esta cavidade está preenchida por um
líquido que tem primariamente a função de um esqueleto (hidrostático),
conferindo consistência ao corpo. O líquido é também um meio circulatório, mas
pode desempenhar outras funções.
Distinguem-se
metazoários sem celoma (acelomados é o caso da medusa), metazoários
com falso celoma (pseudocelomados: é o caso dos platelmintes) e os que
tem verdadeiro celoma (todos os restantes).
Fig. 3: classificação dos metazoários
em função do celoma. |
3.1.1. Os
poríferos
Os Porífera,
ou poríferos, têm este nome devido à presença de poros que se abrem na
superfície externa do corpo e terminam no seu interior. São conhecidos
vulgarmente como «esponjas», em alusão à presença de espongina ou —
popularmente – à sua função como esponja para higiene.
Ecologia e modo de
Vida
Os poríferos são
geralmente marinhos, e muito poucas formas podem ser encontradas em ambientes
de água doce. Vivem geralmente em colónias, fixos em rochedos e noutros
substratos duros; outras formas são epizoárias (vivem sobre animais) e servem
de camuflagem a muitos moluscos.
As esponjas
alimentam-se de detritos presentes na água e que penetram através dos poros.
A digestão é feita nas
células coanócitas. As esponjas alimentam-se também de protozoários e
bactérias.
Morfologia e anatomia
Os poríferos são
extremamente parecidos com as plantas. Podem ser ramificados ou simples.
Esta semelhança com as
plantas levou Aristóteles ao erro de os classificar neste grupo.
Os poríferos
demonstram a mais simples organização estrutural, com apenas duas camadas
celulares: epiderme (pinacoderme) e gastroderme (coanoderme);
entre estas, há o mesênquima com diferentes células (os arqueócitos,
células totipotentes que originam muitas e diferentes células; telolécitos,
que actuam na digestão; os colêncitos, células contrácteis;
os escleroblastos, que participam na construção do esqueleto,
formando as espiculas; as células sexuais, de origem
coanócita). As espiculas são espinhos endurecidos que
Constroem a arquitectura típica do esqueleto das esponjas. Nenhuma das camadas
celulares do grupo pode ser considerada homóloga aos tecidos dos outros
metazoários superiores, os eumetazoa. E preciso reter que as
esponjas não ultrapassam o nível de organização hipoblástico (duas camadas).
A esponja apresenta
ainda uma abertura para escoamento e circulação da água (ósculo) e uma
cavidade central que atravessa todo o corpo (átrio). As esponjas com
este tipo de organização mais simples denominam-se ascon (tipo
asconóide).
Ao longo da evolução
dos poríferos, a sua estrutura interna foi-se tornando mais complexa, em
resultado da adaptação ao modo de Vida, da procura de alimento e da facilitação
da circulação das águas. Assim, surgiram os outros dois tipos: siconóide e leuconóide.
Estas modificações dizem respeito sobretudo ao átrio, que, no caso dos
leuconóides, praticamente desapareceu. Em seu lugar, formaram-se as câmaras
flageladas.
Fig. 5 Coanócito, uma das principais
células das esponjas. Pode ter tido origem nos protozoários Choanoflagellata.
Colarinho (A); núcleo (B); vacúolo digestivo (C); flagelo (D). |
Fig. 6: Tipos morfológicos de
esponjas: asconóide, siconóide e leuconóide. |
Reprodução e
embriogenia
As esponjas
reproduzem-se assexuadamente, por meio de brotos (brotamento) e gémulas
(gemulação), ou sexuadamente, por meio de células sexuais. Têm uma grande
capacidade de regeneração. O desenvolvimento das esponjas passa por um estágio
larval. A larva chama-se parenquimula ou anfiblástula.
Curiosidade...
As esponjas, além serem úteis para o ambiente, por exemplo,
fazem parte do recife-do-coral, são comestíveis em algumas partes do mundo e
são usadas na medicina pelo seu elevado teor de iodo e muitas outras
substâncias. Recordemos que, em Moçambique, o Ministério de Saúde introduziu a
obrigatoriedade de consumo de sal iodado.
3.1.2. Os Cnidários
Os cnidários (filo Cnidaria) foram sempre classificados como celenterados (filo Coelenterata) em alusão à sua cavidade
gástrica. Contudo, a sistemática actual já separou estes grupos para cada um
deles formar um filo independente: filo Cnidaria e
filo Ctenophora. O filo Cnidaria inclui as hidras, medusas, as
anémonas-do-mar e os corais.
Ecologia e modo de Vida
Embora se encontrem em água doce, os cnidários são
maioritariamente de água salgada, com preferência para águas pouco profundas,
na costa dos trópicos e do Indo-Pacifico, mas também para outros mares.
São maioritariamente sésseis, sobretudo no estágio de pólipo, a
forma assexuada do ciclo de Vida da maioria das espécies. Fixam-se em rochas,
cascos, conchas de animais ou em outros substratos, onde esperam encontrar
alimento muito diversificado. Existem também formas de Vida livre e natantes. Tanto
as medusas como os pólipos podem ser coloniais ou solitários. Algumas classes
são quase obrigatoriamente coloniais, com uma divisão de trabalho bem
desenvolvida.
Os cnidários (assim como os
ctenóforos) são maioritariamente predadores. Aprisionam com ajuda dos
tentáculos pequenos animais, incluindo peixes, quer em muitos casos, imobilizam
com o veneno dos seus cnidócitos (células tóxicas). Por vezes, as toxinas podem
ser fatais também para o Homem.
Ocorre a simbiose de cnidários com algas zooclorelas (água doce)
e zooxantelas (água marinha). O parasitismo é raro.
Os cnidários mais conhecidos são naturalmente os que formam os
bancos-do-coral, ou recifes, que geralmente pertencem à classe dos antozoários (Anthozoa), embora participem na formação
deste ecossistema muitos outros organismos vegetais e animais. A estrutura
básica, porém, sobre a qual se desenvolvem outros organismos é feita pela
classe dos antozoários: anémonas-do-mar, corais pétreos ou escleractinios e
octocorais. A estrutura dura com forma de pedra que nós encontramos nos recifes
deve-se ao endurecimento do carbonato de cálcio, segregado pelo pé do pólipo
séssil.
Os corais exigem condições ambientais especiais para que se
possam desenvolver:
·
Não deve haver grandes
variações térmicas (são estenotérmicos); as temperaturas devem estar sempre
próximas dos 20 °C;
·
Não deve haver grandes
variações de concentração do sal (são estenoalinos);
·
Não deve haver grandes
correntes de água.
Morfologia e anatomia
A maioria dos cnidários possui um ciclo de Vida com alternância
de gerações do tipo metagenético, no qual se alternam as fases medusoide
(sexuada) e a polipoide (assexuada). Em consequência deste fenómeno peculiar no
reino animal, desenvolveram-se modos de Vida, comportamentos, estratégias,
formas de alimentação e estruturas especiais correspondentes. O pólipo, por
exemplo, é séssil e para tal desenvolveu um disco
pedálico de fixação. A medusa, por seu turno, é livre e natante,
deslocando-se à vontade nas diferentes zonas da água. Para tal, desenvolveu
órgãos de natação e, em alguns casos, trata-se mesmo de estruturas muito
especializadas para auxiliarem nesta deslocação.
Fig. 9: Pólipo – fase polipoide (A);
medusa – fase medusoide (B). Duas fases do ciclo de Vida do mesmo individuo. |
As células das paredes
do corpo da hidra são várias e desempenham diferentes funções.
Os cnidócitos distinguem-se
pela sua particularidade. São células de captura de presa e de defesa, providas
de estruturas venenosas. Das células mais importantes dos cnidários,
destacam-se:
·
Células epitélio (musculares) – de revestimento do corpo;
·
Células intersticiais – funcionam como células germinativas; originam
espermatozoides e óvulos, assim como qualquer outro tipo celular;
·
Cnidócitos – destinadas à captura de presa e defesa; estão providas de
estruturas venenosas, disparadas contra o alvo (figura 10);
·
Células sensoriais e nervosas – células nervosas multipolares, cujo sistema
nervoso é muito primitivo.
Fig. 10: Cnidócitos.
Reprodução e
embriogenia
A medusa possui gónadas masculinas e femininas. A fecundação é
interna; o zigoto (ovo) abandona o corpo-mãe, desenvolve-se numa larva plánula
que nada aleatoriamente até se fixar no substrato; a plánula desenvolve-se num
pólipo jovem que, depois, vai resultar num adulto com capacidade de
multiplicação assexuada (brotamento, estrobilação, etc.); do pólipo
desenvolvem-se as medusas por vias bem diferentes em cada grupo. Os antozoários
não apresentam a fase de medusa: são só pólipos que asseguram as duas formas de
reprodução, podendo ou não ser hermafroditas. O pólipo reproduz-se
assexuadamente (multiplicação vegetativa) por meio de brotamento.
3.1.3. Os platelmintes
Os
metazoários até aqui estudados foram os de simetria radial (Radiata). Todos os outros, dos platelmintes
aos primatas, possuem simetria bilateral. Qualquer simetria diferente da
simetria bilateral dentro dos animais bilaterais deve ser considerada não
típica e é filogeneticamente secundária. Este é o caso da simetria radial das
estrelas-do-mar que só se verifica nos indivíduos adultos, enquanto os seus
embriões são bilaterais.
Pensa-se
que esta simetria veio responder às exigências de uma locomoção mais eficiente.
No
corpo de simetria bilateral, é possível distinguir os planos dorsal (em cima),
ventral (em baixo), lateral (direito e esquerdo), a frente (anterior) e atrás
(posterior). Nos casos mais avançados da evolução dos animais bilaterais,
ocorre uma concentração de células sensoriais e centros nervosos
(cerebralização). Todas estas modificações vieram favorecer uma melhor
orientação no espaço e no tempo.
Os
animais com simetria bilateral podem ser ainda divididos em duas linhas
evolutivas, nomeadamente em protostómios e deuterostómios. Nos protostómios, a boca
primitiva ou embrionária mantém-se no adulto. Nos deuterostómios, a boca
definitiva é uma nova formação.
O
filo dos platelmintes congrega organismos vermiformes (vermes) muito familiares
ao Homem, quer de modo directo porque lhe transmitem doenças, quer de modo
indirecto porque agem como agentes causadores de doenças em animais
relacionados com o Homem.
Dos
platelmintes mais vulgares (e importantes) fazem parte a planária, a fascíola,
o equistosoma, a ténia. São parasitas que afectam a saúde pública de modo
considerável.
Os
platelmintes são habitantes do mar, das águas doces, onde ocupam superfícies do
solo aquático ou de outros substratos como pedras e plantas. Algumas formas
encontram-se em biótopos terrestres húmidos. Um grande grupo de platelmintes
vive como comensais ou parasitas.
Encontramos
parasitas obrigatórios e parasitas facultativos. Também podemos distinguir
entre os que vivem no interior (endoparasitas) e os que vivem no exterior
(ectoparasitas) dos seus hospedeiros. No caso dos parasitas, muitos
platelmintes desenvolveram órgãos especializados de fixação, tal como ventosas e ganchos.
Também reduziram ou eliminaram o trato digestivo em benefício dos órgãos
reprodutores.
Morfologia e anatomia
Os
platelmintes não possuem uma cavidade interna ou celoma (são acelomados) e estão desprovidos de ânus. A
abertura bucal (faríngea) serve tanto para a entrada de alimentos, como para
expulsar dejectos intestinais. Porém, as várias classes do filo diferem entre
si. A forma geral do corpo é plana ou achatada («platys»,
em grego, significa «plano, achatado» e «helmis»,
«verme»).
O sistema nervoso dos platelmintes
consiste em gânglios cerebrais dos quais partem cordões nervosos para a região
posterior do corpo, ligados entre si por cordões transversais (comissuras). As
formas não parasíticas exibem olhos
simples pigmentares.
Os
órgãos excretores dos platelmintes são formados pelos protonefrídios.
O movimento dos cílios auxilia o fluxo e a eliminação de excreções e água
através de um poro excretor.
Os
platelmintes, no seu todo, não desenvolveram órgãos respiratórios e vasos
sanguíneos. São, com poucas excepções, hermafroditas. Os testículos e os
ovários podem ser vários no mesmo individuo. Possuem órgãos copulatórios e a
copulação é mútua e simultânea, ou, como em muitos parasitas, ocorre uma
autocopulação. O desenvolvimento do individuo pode ser director ou então passa
por vários estágios larvais, maioritariamente ligados å troca de hospedeiros e
à alternância de gerações.
Os
platelmintes compreendem três classes. Filogeneticamente, os turbelários são os
mais antigos, sendo a Vida livre uma característica primária do grupo. O
parasitismo foi evoluindo dentro dos platelmintes, passando de formas livres
para formas com parasitismo facultativo e, mais tarde, obrigatório. Também
evoluíram do ectoparasitíssimo para o endoparasitismo.
Os turbelários
O
nome deriva do latim turbelle e
refere-se aos movimentos de partículas microscópicas que se originam no pólo
oral do animal, junto à pele, devido à actividade dos cílios. São vermes de
pequenas dimensões entre 1 e 600 mm, de Vida livre, com poucas espécies
parasitas.
São
aquáticos, sobretudo marinhos. Os exemplos mais conhecidos vivem em água doce: Planaria e Dendrocoelium.
Fig. 13: Diferentes
planos de vista e estruturas principais da planária. |
Os
tremátodos
Os tremátodos representam um dos principais grupos de vermes
parasitas dos invertebrados; são totalmente parasitas, não havendo formas de
Vida livre. Tanto existem parasitas externos (ectoparasitas), como parasitas
internos (endoparasitas).
São também conhecidos como fascíolas, devido à
representatividade destas no grupo- Para facilitar a sua fixação no corpo do
hospedeiro, desenvolveram órgãos adesivos, chamados de ventosas, que, conforme a sua localização,
podem ser ventrais ou orais. O seu tegumento protege-os
contra a acção das enzimas intestinais do hospedeiro.
Actualmente, os tremátodos podem ser agrupados nas seguintes
ordens:
·
Monogenea – que têm um único
hospedeiro;
·
Digenea – que é o maior
grupo dos tremátodos (6000 espécies). São parasitas que preocupam o Homem e que
constituem um problema para a saúde pública (afectam o Homem e animais
domésticos), o ciclo de Vida compreende dois ou mais hospedeiros.
A fascíola
hepática pertence a esta ordem.
Fig. 15: Ciclo de vida fascíola hepática. |
Os cestóides
Os cestóides alcançaram o maior desenvolvimento do parasitismo
do grupo dos platelmintes. Todas as cerca de 3500 espécies descritas são endoparasitas altamente especializados.
Além do corpo protegido por um tegumento das estruturas de fixação, o seu trato
digestivo desapareceu na totalidade e, em seu lugar, desenvolveram-se órgãos
reprodutores (muitos testículos e ovários). O tegumento é que absorve os
alimentos provenientes do hospedeiro. Nesta classe incluem-se as ténias Taenia saginata e Taenia solium, duas espécies muito
familiares ao Homem.
O corpo da ténia é alongado e dividido em pequenos segmentos (proglótides); possui o escólex (cabeça), geralmente com
ganchos e ventosas, que permitem a fixação parede intestinal do hospedeiro. As proglótides constituem uma
especialização do grupo para um parasitismo intensivo. Cada segmento separado
tem uma capacidade extraordinária de multiplicação.
As ténias são endoparasitas no intestino de muitos vertebrados;
os seus ciclos de Vida requerem um a dois (ou mais) hospedeiros intermediários,
de entre artrópodes e vertebrados. Não existe alternância de gerações.
A cisticercose humana (parasita na fase larval) ocorre por
ingestão de ovos ou proglótide grávida de ténia ou por autoinfeção interna, em
indivíduos que possuem teníase determinada por essa espécie do parasita. No
intestino, as larvas libertadas dos ovos penetram na mucosa intestinal e
atingem a corrente circulatória, podendo ser transportadas para o cérebro,
olhos, músculos, etc., locais onde o cisticerco se pode instalar, determinando
patologias características desses locais de instalação.
O Homem pode ser contaminado com a teníase (parasita na fase
adulta) ao ingerir carne de porco ou bovina crua ou mal cozida.
Os parasitas mais comuns são:
·
a Taenia solium – o
hospedeiro principal é o Homem; o hospedeiro intermediário é o porco; as finas
alojam-se na musculatura do porco;
·
a Taenia saginata – o hospedeiro
principal é o Homem; o hospedeiro intermediário é o bovídeo; as finas alojam-se
na musculatura do bovídeo;
·
o Echinococcus granulosus – o
hospedeiro principal é o cão; os hospedeiros intermediários são o Homem e os
animais domésticos; as finas alojam-se no cérebro, no fígado e na medula
espinal.
O Homem pode adquirir cisticercose ao
ingerir ovos da ténia, comportando-se como hospedeiro intermediário, e como
definitivo pelo consumo de carne com cisticercose,
contraindo assim a teníase.
Os principais sintomas de infecção com ténia são falta de
apetite, vertigens, indisposição, fome e vómitos. Quando ocorrem vómitos, há
perigo de autoinfeção, o que leva invasão por um estágio de oncosfera libertada da sua cápsula,
através de enzimas digestivas. Neste caso, a oncosfera (0,5 cm) pode atingir
todos os órgãos, inclusive o sistema nervoso, os olhos, etc.
Existem cerca de 40 milhões de infectados com Taenia solium em todo mundo.
Fig. 17: Ciclo de Vida
de Taenia solium. Partindo do Homem: ténia adulta, cisticerco,
porco, ovos, infecção do Homem por ingerir carne. |
3.1.4. Os nematelmintes
Do ponto de vista de evolução, os nematelmintes seguem-se aos
platelmintes. Trata-se de um pequeno grupo de vermes, cuja Vida é
tendencialmente parasítica.
Os nematelmintes são:
·
Animais saprófagos –
alimentam-se de bactérias ou são parasitas de determinados animais e plantas;
também existem predadores;
·
Animais que também vivem em
excrementos de outros animais e são ainda encontrados em zonas agrícolas,
lugares húmidos, em águas doce e salgada.
São também chamados nemátodos.
Principais
nemátodos parasitas
Nome |
Hospedeiro |
Consequências |
|
Principal |
intermediário |
||
Ascaris lumbricoides Lombriga |
Homem, porco |
- |
Infecção oral, nervosismo, perturbações estomacais e
intestinais |
Pascaris equorum |
Cavalo, Burro |
- |
Idem obstipação intestinal |
Entamobius vermicularis |
Homem |
- |
Infecção oral e por inalação |
Ancylostoma duodenale |
Homem |
- |
Larvas perfuram a pele; nos adultos, alacam o intestino
delgado; causam perda aguda de água e sangue e eosinofllia. |
Trichinella spiralis Triquinas |
Rato, raposa, porco, Homem e outros animais. |
Os mesmos hospedeiros |
Helminloses gerais com curvas de febre caracteristicas. |
Wuchereria bancrofti Filária |
Homem |
Mosquitos |
Em conjugação com bactérias, causam elefantíase |
Drancuculus medinensis |
Homem |
Pequenos crustáceos |
Edemas e cancro da pele |
A Lombriga é um dos vermes mais prejudiciais ao Homem. A sua
larva desenvolve-se em ambientes quentes e húmidos. No Homem, a infecção ocorre
por meio da ingestão dos ovos infectados em água ou alimentos, principalmente
verduras. As larvas entram no intestino delgado e alcançam a corrente sanguínea
através da parede do intestino. Infectam o fígado, onde crescem durante menos
de uma semana, entram nos vasos sanguíneos novamente, passando pelo coração, e
seguem para os pulmões. Durante esse período, ocorre a cópula e a libertação de
ovos que são excretados com as fezes.
A medida profilática para
muitas das doenças parasíticas é o saneamento do meio e a higiene pessoal e
colectiva. É muito importante desparasitar periodicamente e recorrer aos
médicos ou ao posto de saúde, assim que os principais sintomas se manifestem.
No seu conjunto, os nematelmintes são pseudocelomados.
Possuem tubo digestivo completo, com boca e ânus independentes. Não têm sistema
respiratório, nem circulatório. O seu sistema nervoso é muito rudimentar.
Reproduzem-se apenas de modo sexuado com sexos separados.
Os nemátodos formam o grupo mais representativo, destacando-se
os parasitas ascarídeos (Ascaris sp.), as
triquinas (Trichinella sp., Wuchereria sp.)
e vermes africanos especiais, como a Loa
loa.
3.1.5. Os anelídeos
O filo Annelida (do latim «annellus», pequeno anel) é composto por
organismos vermiformes cilíndricos. Os metâmeros dos anelídeos caracterizam-se
por serem homónomos, ou iguais, nas
classes inferiores, e heterónomos,
ou diferentes, nas classes superiores.
Internamente, localizam-se, em cada metâmero, os sistemas nervoso, sanguíneo e excretor e, por vezes, também os órgãos reprodutores. Externamente, possuem
os parapódios como órgãos escavadores, nadadores ou de auxílio à locomoção. Os
anelídeos São seres celomados.
A metameria (segmentação) está relacionada com a actividade do
terceiro tecido germinativo, a mesoderme.
Assim, estes animais (até os cordados) são de organização triploblástica
(ectoderme, mesoderme e endoderme).
Através da mesoderme origina-se urna cavidade interna
secundária, o celoma,
que, ao contrário do que acontece nos grupos anteriores, é verdadeiro,
revestido pelo epitélio mesodérmico. Os sacos celómicos estão divididos por septos. No celoma estão alojados todos os
órgãos internos.
Há características comuns entre os anelídeos e os artrópodes:
·
Metameria;
·
Extremidades ordenadas em
série de metâmeros, cuja primeira função é auxiliar a locomoção;
·
Nefrídios como órgãos
excretores;
·
Sistema nervosa do tipo
escada de corda.
A superfície do corpo dos anelídeos é muito rica
em glândulas e o seu epitélio está provido de células sensitivas.
Fig. 21: Visão sobre
os metâmeros e as principais estruturas do corpo de um anelídeo. |
Características gerais dos anelídeos
Os anelídeos apresentam as características seguintes:
·
Sistema nervoso com anel
nervoso anterior, gânglios e cordão nervoso ventral;
·
Sistema circulatório
fechado;
·
Ausência de órgãos
respiratórios verdadeiros;
·
Hermafroditas, reprodução
normalmente sexuada; larva trocófora;
·
Habitam diferentes
ambientes e a alimentação é extremamente diversificada.
Fig. 22: Anatomia
interna de uma minhoca terrestre Lumbricus
sp. |
Reprodução da minhoca e
importância ecológica
As minhocas pertencem à classe dos anelídeos: têm o corpo
dividido em anéis, que variam em quantidade de acordo com a espécie.
Vivem enterradas no solo, escavam galerias e canais, à procura
de abrigo e restos vegetais, que são ingeridos com grandes quantidades de
terra. São, portanto, animais detritívoros, uma vez que se alimentam de
detritos de várias origens.
As minhocas são seres hermafroditas, pois cada individuo tem
testículos e ovários. No entanto, não se reproduzem sozinhas, dependendo da
união com outra para a troca de espermas (fecundação cruzada). No acasalamento,
uma minhoca coloca-se em sentido oposto outra, os órgãos sexuais masculinos de
uma encontram-se com os aparelhos genitais femininos de outra e vice-versa,
acontecendo, então, a deposição de esperma em ambas.
A cada sete ou dez dias, cada minhoca vai produzir um casulo.
Dentro de cada casulo, temos de dois a 15 ovos, fertilizados ou não. Quando
nascem, as minhocas são brancas, tomando a cor dos seus progenitores à medida
que vão se alimentando.
Quando o ambiente e a temperatura são favoráveis, a reprodução
das minhocas dura quase o ano todo. Cada minhoca, em condições ideais, pode
deixar de 100 a 140 descendentes em apenas um ano.
As minhocas têm uma imensa importância ecológica. Os seus
excrementos constituem um excelente adubo orgânico. O húmus produzido por elas
tem cinco vezes mais nitrogénio, duas vezes mais cálcio, duas vezes e meia mais
magnésio, sete vezes mais fósforo e onze vezes mais potássio do que o solo de
onde é extraído. Escavando até 2 metros de profundidade, as minhocas constroem
uma rede de galerias subterrâneas que deixa o solo mais poroso e com maior
capacidade de reter a água, tornando mais fácil o seu cultivo. Nesse solo, a penetração
das raízes e da água é facilitada, o que possibilita um desenvolvimento maior
das plantas, com melhores safras e com mais altos índices de produtividade.
Bibliografia
PIRES,
Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe –
Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.